Vamos lá… sei que vão alguns posts pra eu falar tudo que eu quero, mas hora ou outra eu precisaria começar, e então que seja agora.
Uma amigona minha, a Nana, me convidou pra fazermos juntas a Feira de Natal da Praça Santos Andrade, em Curitiba. Fomos informadas que o funcionamento seria o seguinte: paga-se uma inscrição, mais um valor para os seguranças cuidarem das barracas durante o periodo da feira, mais o aluguel de um “piso” (tipo paletes), mais gastos com plásticos pra proteger a barraca, alimentação, transporte, etc…
Ok… os valores são os seguintes: R$241,08 de inscrição, (para uma barraca com 4 artesãos juntos, as barracas de alimentação, por exemplo, pagam 4 vezes esse valor e ficam sozinhos numa barraca) + R$165,00 de segurança (que abrem e fecham as barracas com lonas e teoricamente cuidam das barracas durante a noite) + R$25,00 por feirante pelo tablado no chão. Fora isso, o gasto médio por feirante é de R$150,00 com plásticos pra proteger as barracas, que são IMUNDAS, CHEIAS DE REMENDOS, IMPRATICÁVEIS… Fora todo o restante, com alimentação, transporte e blá blá blá…
Ok. Você faz a inscrição, paga no banco e vai numa reunião na Secretaria de Turismo da Prefeitura de Curitiba… reunião onde são sorteadas as barracas e passadas informações sobre o funcionamento da feira… Aí você começa a entender o esquema, e percebe que o campo onde vc vai pisar pela primeira vez é minado… bem minado.
Sim… eles nos informam que as barracas estão meio “castigadas” mas que “ano que vem serão novas” (as feirantes mais antigas garantem que isso é prometido há anos), e sugerem que se compre o plástico cristal, com a exigencia que tem que ser transparente, pra proteger as barracas. ok.
Você vai e monta toda a instalação elétrica, os plásticos dentro de uma barraca que olha, é algo surreal de tão sujas, tão feias… são barracas que são cedidas para festas de bairros, de frutas (rs, festa da uva, por exemplo), de paroquias… Sim, cedidas. E nós pagamos R$1000,00 por um mísero mês de aluguel.Tudo montado? Legal… vc descobre que as barracas que vão para a Feira de Natal da Praça Osório são infinitamente melhores. Mais limpas, lonas proporcionais às armações de ferro, tudo bonitinho… a inscrição que a Osório paga? Não, não é mais que na Santos Andrade não… mesma coisa. Mesmo valor.
Mas isso não é nada…
Sou muito observadora, conversadora, e curiosa. Conheci tanta gente, fiz tanta amizade, descobri tanta coisa…
Descobri por exemplo de que quem ‘minou’ esse setor da prefeitura foi a ‘querida’ vereadora JULIETA REIS (DEM). Esta senhora (odiada por todos os feirantes com quem conversei) colocou MARILI LESNAU como COORDENADORA DAS FEIRAS, cargo de confiança (tão odiada quanto sua chefe). Desde que Julieta entrou nas feiras, a revenda passou a tomar conta tanto das feiras especiais quanto da Feira do Largo da Ordem.
Pausa
Todas essas feiras da prefeitura são para incentivo do ARTESANATO, com a exigência de que os produtos comercializados sejam…. artesanais, óbvio. Não é o que se vê. Estima-se que 50% da feira do largo seja REVENDA. O que é isso? Comerciantes que compram e revendem. Não, não fazem não. Trocam as etiquetas lá mesmo e voalá… compraê que né? Tá barato e “fui eu que fiz”… Eu que fiz nada… tem empresas, lojistas que tem mais de uma barraca na feira… tudo revenda… tem barracas e mais barracas “made in 25 de março”… Já passaram pela coordenação pessoas que tentaram segurar isso… Paulo Base sei que foi um desses, e foi derrubado. Vocês não fazem ideia do quanto rola de $$ nesse setor.
Despausa
Ok… voltando.
Conversei muito com o Luiz… “dinossauro” das feiras… era feirante da Rui Barbosa antes da criação da Rua da Cidadania, que ele mesmo diz que foi o “enterro” dos artesãos… Foi uma conversá ótima… Ele estava revoltado porquê os feirantes de alimentação estavam sem acesso à água, por exemplo… eu vi o stress da Antônia, feirante vizinha que virou amiga, quando ia até o chafariz pegar água e o cadeado estava trocado e trancado.
Ele me contou muitas coisas, expressou o amor dele pelo trabalho artesanal, citou histórias lindas de artesãos que lutam há anos pra ter o trabalho reconhecido, e de gente que chega com revenda e detona com tudo.
Me contou que há 12 anos atrás, um feirante artesão ganhava bem, a ponto de poder pensar em casa própria e financiamentos de carros, etc. Hj em dia? O que eu vi lá são pessoas sofridas, que passam necessidades sem apoio nenhum da prefeitura.
Luiz me contou que na Santos Andrade não se pode dividir Barraca de alimentação… mas que curiosamente na Osório tinha barracas de alimentação com 2 feirantes dividindo. Contou que o estatuto da Feira do Largo da Ordem determina que se pode ter apenas uma barraca por família, e que existem famílias que tem 2, 3, 4 barracas.
Pausa
Pois é, vou parar por aqui e volto amanhã pra terminar… amanha venho com minha opinião sobre isso e com fotos da feira, das barracas, e histórias de feirantes que são de indignar qualquer pessoa.
A única coisa que eu posso adiantar é que nunca, nunca mais participo de feira da Prefeitura dessa cidade. Sou honesta demais pra me sujeitar à isso.
Abraços,
Van Lima